terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Aluviões na Madeira no Séc. XIX
As Aluviões na Madeira Durante o Século XIX
Rui Nepomuceno
Embora o arquipélago da Madeira seja mundialmente conhecido pelas suas maravilhosas paisagens e pelo seu excelente e moderado clima, é do conhecimento geral que, excepcionalmente, tem sido varrido por grandes chuvadas, que em virtude da desrtificação de algumas serras, e sobretudo pela extrema inclinação das encostas têm causado horas de grande pânico, destruição, e perdas de vida.
A aluvião de Outubro 1803 foi considerada a maior calamidade que tem ferido a Ilha no largo período de cinco séculos; quando grande volume de águas das ribeiras do Funchal galgaram as suas margens e espalharam-se com grande ruído pelas ruas laterais, começando a sua obra de destruição. Nessas terríveis circunstâncias a morte surpreendeu muitos madeirenses na fuga, arrastados pela violência das correntes ou atingidos pelas derrocadas das casas e paredes que se desmoronavam, sendo certo que inúmeros prédios foram arrastados para o mar, incluindo a «Igreja de Nossa Senhora do Calhau».
Segundo referem Fernando Augusto da Silva e Carlos A. Menezes no «Elucidário Madeirense», «calcula-se que só no Bairro de Santa Maria Maior tivessem perecido cerca de 200 pessoas. Ruas inteiras desapareceram com os seus habitantes, e outras inundadas de água e lama deixaram os proprietários reduzidos à extrema indigência».
Segundo assevera Cabral Nascimento mum longo estudo sobre estes avontecimentos que publicu no «Arquivo Histórico da Madeira» (Vols.1 e 5), esta aluvião terá causado mais de 700 vítimas mortais e além da cidade, também houve muitos danos nas restantes freguesias do Sul da Ilha, nomeadamente em Campanário, Calheta, Tabua Ribeira Brava, Santa Cruz e, sobretudo em Machico, onde morreram catorze pessoas, ruiu a «Capela do Senhor dos Milagres», as águas danificaram algumas igrejas e ainda os arquivos de Foros, Capelas e Irmandades.
Em Fevereiro de 1804, chegou ao Funchal o Brigadeiro Reinaldo Oudinot, encarregado de dirigir as Obras Públicas do arquipélago e de mandar reparar os grandes danos verificados na cidade e no campo. Este engenheiro dirigiu os notáveis trabalhos para o encanamento, alargamento, e reforço das muralhas das bermas das ribeiras do Funchal e de Machico, e como refere Eduardo de Castro e Almeida no «Inventário do Arquivo da Marinha e Ultramar – Madeira e Açores» alertou sobre «a urgência de empregar todos os meios possíveis para obviar os desastres que as correntes das ribeiras causavam no dia-a-dia, sendo para temer a destruição de algumas localidades». Simplesmente, estes sábios conselhos, não têm sido seguidos por algumas autoridades camarárias por ganância, negligência e, sobretudo, pressionados pela cupidez dos «patos bravos» da construção civil, que têm estrangulado algumas ribeiras e, pasme-se, chegam a construir sobre o leito doutras, pondo em perigo as zonas ribeirinhas do Funchal.
Oudinot desenhou ainda um desenvolvido mapa da cidade do Funchal e da sua baía, e em todos os trabalhos para minorar os efeitos da tragédia socorreu-se do serviço braçal gratuito de muitos madeirenses, que apenas receberam géneros de primeira necessidade e a isenção de certos tributos, tudo de acordo com as antigas «Ordenações», que vigoravam desde o início do povoamento, para ocorrer a eventos excepcionais.
Em 24 de Agosto de 1842, outra aluvião também causou bastos sofrimentos e muita destruição. Novamente, como colhemos no «Elucidário Madeirense» da autoria do historiador Fernando Augusto da Silva «as águas das ribeiras saíram dos seus leitos e espalharam-se pelos terrenos marginais. Ficaram completamente inundadas as ruas do Bairro de Santa Maria Maior, o Pelourinho, a Rua dos Medinas e ainda outras. Uma grande parte da cidade ficou destruída, muitos edifícios arruinados até os alicerces, e muitas famílias ficaram pobres».)
E o mesmo desolador panorama verificou-se em 5 e 6 de Janeiro de 1856, tudo agravado pela tremenda epidemia de cólera morbus, que ceifou muitas vidas na Madeira e no Porto Santo.
E para alertar e deixar bem esclarecido que as aluviões são um fenómeno cíclico no Arquipélago da Madeira, lembramos que já nos séculos anteriores se tinham verificado outras tragédias idênticas, como por exemplo em 19 de Setembro de 1724, quando outra aluvião causou grandes danos na cidade e no campo, tendo morrido, pelo menos 25 pessoas.
Funchal, Outubro de 2006
Aluv
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Interessante este artigo. Andava mesmo agora a pesquisar sobre este assunto, após ter ouvido as declarações do Dr. Alberto João Jardim. Não tinha conhecimento de tantos aluviões, embora não tenha ficado surpreendido, dada a localização e a orografia da ilha.Aliás, quando em 2005, para aqui vim trabalhar e residir, fiquei admirado por este fenómeno não ser frequente. Interessante que, em Abril de 2008, a plusiovidade ocorrida tudo indicava que tb poderia ter acontecido ul aluvião de grandes proporções. Tal não aconteceu, felizmente.Talvez porque nesse altura os terrenos não estavam tão saturados, já que este ano tem sido de imensa chuva e alguma com muita intensidade. em relação a este, há que olhar em frente. Fico surpreendido com a força desde povo madeirense... Coragem!!
ResponderEliminarBoa tarde, desculpe a invasão, mas gostaria de comprar um livro sobre a historia da Madeira desde a sua descoberta ate os nossos dias, pode-me aconselhar algum???
ResponderEliminarObrigada
Marco Gomes
Caro Senhor,
ResponderEliminarVenho expressar-lhe o meu apreço e gratidão pela contribuição que tem dado para o conhecimento cultural da Madeira. Tenho lido os seus artigos postados no blogue e, em especial, os referenciados a Francisco Álvares de Nóbrega. O meu bem haja!
Carlos A.Monteiro