sábado, 6 de fevereiro de 2010
Partidos Constituidos na Madeira Após o 25 de Abril
Depois da Revolução Democrática de 25 de Abril de 1974, surgiram na Madeira, por vezes com alguma complexidade e grande especificidade, numerosos partidos e organizações políticas.
Começamos por estudar com alguma minúcia o Partido Comunista Português madeirense, por ter sido a única força politica que heroicamente resistiu e se manteve organizada, em circunstâncias difíceis e quase impraticáveis, durante os quase cinquenta anos da ditadura fascista, ora com grande pujança como sucedeu até 1948, ora com muitas debilidades como aconteceria depois daquela data, em que foram presos a quase totalidade dos seus principais quadros e dirigentes madeirenses.
O Partido Comunista Português foi fundado em 6 de Março de 1921, numa Assembleia realizada em Lisboa na sede da Associação dos Empregados de Escritório, que elegeu a sua primeira direcção; depois de no inicio desse ano ter sido constituída uma Comissão Organizadora, e de em 27 de Janeiro o jornal A Batalha, ter publicado o Projecto de Bases Orgânicas, para discussão.
Pouco tempo depois, o PCP implantou-se na Madeira, onde dirigiu e participou em muitas lutas e iniciativas sindicais, camponesas e populares, e deu grande contributo para engrossar o movimento operário e camponês, inicialmente muito influenciado pelos anarco-sindicalistas.
Os seus primeiros quadros evidenciaram-se nos movimentos grevistas e nas grandes lutas operárias que antecederam a «Revolução Democrática da Madeira de 1931», e participaram, activamente, nesse período revolucionário, aliados com todos os progressistas que pretendiam que a democracia fosse restaurada na Madeira, e em Portugal.
Deste modo, em 21 de Abril de 1931, os militantes do PCP e doutras forças de esquerda, nomeadamente anarquistas, subscreveram um manifesto da «União dos Sindicatos Operários do Funchal (USOF)» apelando às forças armadas, à população civil, e aos operários e camponeses, para a continuação da luta pela Democracia, contra o regime fascista.
No final de 1932, foi eleito o primeiro Comité Regional do Partido Comunista na ilha, constituído na sua maioria por operários, alguns intelectuais e certos militantes provenientes da classe média.
Foi escolhido para o secretário-geral e 1º responsável o militante Antenor Cruz – grande animador da fundação do Partido na Madeira, depois de ter regressado poucos anos antes de Paris, onde fora funcionário da sucursal do Banco Nacional Ultramarino.
Para membro do secretariado e 2º responsável foi eleito o brilhante caricaturista João Ivo Ferreira, tendo também sido eleitos como elementos da direcção do partido João Inês Mendonça, Luís Maria de Nóbrega, e Manuel Maria Gonçalves.
Neste período da constituição do primeiro Comité de Direcção Regional, notabilizaram-se na luta pela conquista das Liberdades e do Socialismo os seguintes militantes:
Antenor Cruz – Pequeno comerciante de banana.
João Ivo Ferreira – Empregado de comércio e caricaturista.
João Inês Mendonça – Pedreiro.
Luís Maria de Nóbrega – Sapateiro.
Manuel Maria Gonçalves – Carpinteiro; todos eles membros da Direcção Regional do PCP..
Adelino Costa – Pequeno Comerciante.
Agostinho da Silva Fineza – Tipógrafo.
António Maria Gonçalves – Carpinteiro.
António Gouveia – Professor.
António Rodrigues – Sapateiro.
Carlos Agapito Camacho – Funcionário Bancário.
Gouveia Menezes – Advogado.
João Amaral – Tanoeiro.
João Gomes Garanito – Pedreiro.
João Moniz Mendonça – Pedreiro.
Manuel Andrade – Tipógrafo.
Ulrich de Abreu – Empregado de Comércio.
Nestes primeiros anos de actividade partidária na Região, os militantes comunistas madeirenses reuniam-se, clandestinamente, onde as dificeis circunstâncias permitiam. Todavia juntavam-se mais frequentemente no café Cavalariça que se situava na Rua Direita do Funchal, e também na sapataria do militante António Rodrigues, localizada na Rua da Conceição dessa cidade.
Contactavam com o Comité Central do Partido Comunista Português no Continente, através dum militante que era maquinista do navio Funchalense; sendo normalmente Adelino Costa quem estava encarregado de cumprir a importante tarefa de ligação com esse activista.
Além de dirigir as lutas operárias e participar na vida sindical, uma das principais actividades no princípio da década de 1930 foi em volta do «Socorro Vermelho Internacional», intensificadas a partir de 1936, no decurso da guerra civil de Espanha, com a recolha de fundos, roupas e medicamentos, para os presos políticos portugueses, e também para os republicanos espanhóis.
Em 1931, os militantes do PCP/Madeira foram muito activos nas lutas que antecederam a «Revolução Democrática da Madeira», de que foram incondicionais adeptos e colaboradores.
Em 1936, os seus dirigentes e activistas foram também importantes apoiantes e militantes do levantamento popular camponês, que ficou conhecido na memória dos madeirenses pelo nome de «Revolta do Leite».
Outra importante tarefa dos activistas do partido era a distribuição aos trabalhadores, aos progressistas, e ao povo em geral do jornal «Avante» – órgão do PCP elaborado no Continente; tendo sido os principais responsáveis dessa difícil tarefa partidária o carpinteiro António Maria Gonçalves e o tanoeiro João Amaral.
Nas suas reuniões, os militantes do PCP – Madeira discutiam a situação política nacional, internacional, e regional, os problemas dos trabalhadores e dos camponeses, muito especialmente dos caseiros; e decidiam a agitação, a propaganda, as propostas sindicais, e demais acções de massa a realizar.
Álbuns militantes do partido colaboravam nos jornais do movimento sindical «Trabalho e União» e «A Batalha», nomeadamente o metalúrgico Henrique Pereira, que publicou diversos artigos no último desses semanários, dos quais salientamos um trabalho sobre a importância da Educação e da Instrução, que considerava fundamental na formação dos trabalhadores.
Na vida particular os militantes do PCP estudavam e liam a literatura marxista, preocupavam-se com os problemas dos movimentos sindical, camponês e operário; e mantinham-se informados acerca de tudo o que se passava no mundo, principalmente as conquistas dos bolcheviques na URSS.
Nos longos anos do fascismo, como muitos dos livros e revistas que os interessavam fossem proibidos, adquiriam esses exemplares clandestinamente, e tinham que os acautelar e esconder, quase sempre nos «forros» das suas casas.
Em 1934/35, foram presos e duramente torturados pela PIDE o secretário-geral e alguns membros da direcção do «Partido Comunista Português» da Madeira, em consequência duma denúncia feita a essa polícia política pelo guarda Barbeito – bufo corrupto que obteve informações duma fadista continental que se tinha tornado amante do jovem guitarrista e militante do PCP João Amaral, e à qual o activista António Maria Gonçalves fornecia o Avante.
Em consequência das sevícias e atrocidades, o 1º responsável do partido Antenor Cruz, que mesmo depois de ter sido selvaticamente martirizado e torturado não denunciou os seus camaradas, acabou por falecer, estoicamente, com honra e muito heroísmo. Todavia, os assassinos da polícia política informarem que se tinha suicidado no hospital.
Alertados do perigo que corriam, os restantes membros do Comité da Direcção Regional, rapidamente reuniram-se na sapataria do seu camarada António Rodrigues, e decidiram dissolver a direcção do partido, esconder e destruir o material comprometedor, avisar todos os outros militantes e activistas para que redobrassem os cuidados próprios da clandestinidade, encarregando ainda o 2º responsável João Ivo Ferreira, de partir, imediatamente, para Lisboa, com a finalidade de analisar e dissecar a grave conjuntura com o Comité Central do Partido Comunista Português.
Depois de estudarem e ponderarem a situação vivida na Madeira, os membros do «Secretariado do Comité Central do PCP», que também estava implementando uma reestruturação partidária dirigida pelo secretário-geral Bento Gonçalves, decidiram encarregar o próprio Ivo Ferreira de reorganizar as células do partido no arquipélago, e refazer, o Comité Regional, sobre a sua direcção.
No decurso desses penosos acontecimentos, por suspeita de delação, facto que nunca se confirmou inteiramente, o dirigente Manuel Maria Gonçalves, foi expulso do partido.
Após esse período conturbado, corajosamente, o PCP-Madeira voltou à luta, novamente à cabeça do movimento operário e camponês, embora a repressão fosse tremenda, e se tornasse explosiva em 1945, com o aproximar do fim da IIª Guerra Mundial.
E quando foi anunciado que esse sangrento conflito tinha terminado com a derrota do nazismo, o PCP-Madeira conseguiu enviar um telegrama de congratulações a Churchill, solicitando apoios para o duro combate contra as ditaduras fascistas na Europa.
Nessa época, o «Partido Comunista Português» madeirense, teve ainda grande actividade unitária, sobretudo quando surgiu o «Movimento de Unidade Democrática – MUD», de cuja comissão local, escolhida em 1945, fizeram parte os militantes do PCP, Henrique Pereira e Ulrich Abreu.
Assim, a Comissão do Movimento de Unidade Democrática- MUD na Madeira, seria composta pelos seguintes activistas:
Dr. Américo Durão – Médico Cirurgião.
Dr. Vasco Marques – Advogado.
Dr. Brito Câmara – Advogado.
Dr. Pestana Júnior – Advogado.
Tenente Ascensão – Militar na Reserva
Henrique Pereira – Metalúrgico e militante do PCP.
Ulrich de Abreu – Empregado do Comércio e também militante do PCP.
Em fins de Maio de 1948, o «Partido Comunista Português da Madeira» sofreu outro rude golpe, quando após uma denúncia, a PIDE prendeu todos os seus dirigentes e muitos quadros, em número de setenta, acabando vinte e três por responder nos Tribunais Especiais do regime, julgamento que se tornou tristemente célebre, por dele resultar as primeiras sentenças em que foram aplicadas no nosso País as famigeradas «medidas de segurança, com efeitos retroactivos».
Esses arrojados militantes madeirenses do «Partido Comunista Português» sofreram atrocidades, torturas e humilhações de toda a ordem, sendo que alguns até perderam a vida nessa heróica luta pela transformação da sociedade.
Assim, além de Antenor Cruz, que antes destes acontecimentos tinha sido assassinado pela PIDE, embora essa miserável polícia fascista tenha anunciado que se suicidara; recorda-se o valoroso tipógrafo Agostinho da Silva Fineza, que após ter cumprido cerca de 8 anos de prisão nas masmorras do Aljube e de Caxias, foi abatido a tiro pela criminosa polícia política, numa manifestação do 1º de Maio, que decorria em Lisboa.
Depois de terem estado detidos e incomunicáveis nos cárceres de Caxias, os comunistas madeirenses, presos em Maio de 1948, foram julgados em Julho de 1949, no Tribunal Plenário da Boa Hora, tendo sido seus advogados de defesa os Drs. Bustorff Silva, Mário Ferreira, Fernando de Castro, e Nuno Rodrigues dos Santos.
Foram condenados a quatro anos de prisão, seguidos de oito de degredo João Ivo Ferreira, Carlos Agapito Camacho e Florentino Gomes.
A três anos de prisão Luís Maria de Nóbrega e Agostinho da Silva Fineza.
A dois anos de prisão António Maria Gonçalves, Henrique Ricardo Pereira, António Rodrigues, João Inês de Mendonça e Virgílio Rodrigues Filipe.
A vinte meses de prisão Adelino Costa, Pedro Severiano dos Reis e Manuel Amaral Jorge.
Finalmente a dezoito meses de prisão o Dr. João Gouveia de Meneses e Manuel Mendonça Gouveia.
Conseguiram ser absolvidos Tito Pereira da Conceição, José de Freitas, João Gomes Granito, João Silvano Figueira, Ulrich da Paixão Abreu, João da Silva, João Gomes Valente, Abel Correia Fernandes, Manuel Pestana Andrade, Carlos Martins Pereira, Henrique Pereira «O Tarzan», Noé Alberto Pestana e o Dr. José Prudêncio Teles.
Antes de terem sido julgados, todos os militantes do «Partido Comunista Português», foram vítimas de maus-tratos e espancamentos, nomeadamente nos violentos e desalmados interrogatórios. Alguns foram até sujeitos à terrível tortura do sono – conhecida por estátua, nomeadamente o valoroso e heróico Ivo Ferreira, que por ser o 1º responsável do partido, seria o mais duramente seviciado.
Após a condenação a pesadas penas, os militantes do PCP foram cumpri-las nas tremendas masmorras de Caxias e Peniche, sofrendo condições de grande severidade, em que até era quase impossível comunicaram uns com os outros; apenas conseguindo atenuar a solidão fabricando, manualmente, objectos do tipo artesanato. A própria correspondência para as famílias era censurada, e a hipocrisia era tanta que nem podiam escrever que estavam numa cela, devendo substituir essa expressão pela palavra «sala»…
Henrique Pereira, que também foi brutalmente espancado nos criminosos interrogatórios após a sua prisão, contou-nos que apenas por ter sido surpreendido a criticar o presidente da República fascista, general Carmona, foi transferido para os cárceres do Porto, depois de cumprir uma longa punição na fétida célula disciplinar de Caxias.
João Ivo Ferreira, autodidacta e brilhante caricaturista, entretinha-se a desenhar camaradas de prisão, os juízes que o condenaram, e até um guarda prisional com cara de símio, ironicamente esboçado com um aprimorado e ondulante rabo de macaco…
E por estarem presos no Continente, a maioria dos madeirenses não eram visitados pelos seus familiares, que eram pobres, facto o que os penalizava profundamente. Henrique Pereira também nos contou que, excepcionalmente, a mãe do Ivo Ferreira, já muito velhinha, deixava a ilha para ver o seu heróico e nobre filho, encarcerado pelos fascistas a soldo de Salazar, apenas por ter lutado por mais pão e justiça para todos os homens…
Depois dos anos cinquenta, devido à prisão de quase todos os seus quadros e dirigentes, o PCP-Madeira, teve uma actividade bastante débil, nunca mais tendo sido possível eleger uma verdadeira «Direcção da Organização Regional», pois os próprios quadros e militantes que iam saindo das prisões, sempre vigiados pela PIDE, não tinham condições para militar na Madeira com um mínimo de segurança e eficácia.
Nessas difíceis circunstâncias, os poucos adeptos e simpatizantes clandestinos do PCP, militavam em todas as organizações progressistas unitárias, que iam do Teatro Experimental, ao Cine-Forum, das conferências do Pátio, às tertúlias da oposição democrática, do jornal Comércio do Funchal, ao grupo dos Padres do Pombal.
Quando havia «eleições» o médico Fernando Azeredo Pais e o advogado Rui Nepomuceno, subscreviam as propostas das candidaturas da oposição; e o Fernando Pais, além de ter escrito no «Comércio do Funchal» alguns artigos sobre as dificuldades no sector da saúde; chegou mesmo a concorrer à cabeça duma lista democrática pela Ribeira Brava, que obteve tantos votos que obrigou os fascistas a terem de reconhecer esse bom resultado.
O António Feliciano Canavial, o Rui Nepomuceno, os escultores Anjos Teixeira, e Francisco Simões, o cirurgião Ricardo Jorge, o fotógrafo Manuel Nicolau e o jornalista João Rogério Prioste, sempre que podiam, divulgavam textos marxistas, distribuíam o Avante, e militavam em todas as iniciativas unitárias da oposição.
Em 22 de Abril de 1969, o Rui Nepomuceno, o Anjos Teixeira e o Fernando Azeredo Pais, subscreveram a célebre «Carta a Um Governador» onde claramente reivindicavam a Democracia e a Autonomia Política para o arquipélago da Madeira.
Logo nos primeiros dias que sucederam a Revolução de 25 de Abril de 1974, o António Feliciano Canavial, o João Rogério Prioste e o Rui Nepomuceno, ajudaram a organizar no jornal «Comércio do Funchal», a grandiosa manifestação do 1º de Maio; e pouco depois colaboraram na constituição do movimento da esquerda «União do Povo da Madeira – UPM», tendo sido eleitos para a sua direcção.
Mais tarde, quando esse movimento degenerou numa força esquerdista, radicalista, e de expressão maoista, o Rui Nepomuceno foi o principal fundador dum outro movimento da esquerda unitária, denominado «Frente Popular Democrática da Madeira – FPDM», que aprovou uns Estatutos inspirados nos do MDP/CDE.
A primeira «Direcção da Organização Regional do Arquipélago do PCP da Madeira (DORAM)», eleita após o 25 de Abril, foi composta pelos «velhos» comunistas que sofreram muitos anos de prisão João Ivo Ferreira e Henrique Pereira, e ainda pelo Rui Nepomuceno (advogado), Melon (jurista), Martinho (alfaiate), Laureano (empregado de escritório), Figueira (operário de panificação), e Edmundo (operário da Construção Civil).
Uma das suas primeiras iniciativas foi homenagear os dois gloriosos camaradas, que deram a própria vida pelo Socialismo, pelas Liberdades, pelo Pão, e pela Justiça, Antenor Cruz e Agostinho da Silva Fineza - os heróis supremos dessa longa batalha.
Nesse período os comunistas madeirenses e outros militantes da esquerda passaram a dirigir importantes lutas, nomeadamente para o saneamento das direcções dos sindicatos fascistas e a eleição dos dirigentes dos Sindicatos Livres, tarefas de que ficaram responsáveis João Ivo Ferreira, Henrique Pereira, Edmundo, e o João Rogério Prioste.
Para reforçar e executar a luta pela extinção da Colonia ficaram inicialmente responsáveis Rui Nepomuceno e a Inês da Fonseca, meses depois ajudados pelo militante João Lizardo, que havia chegado à Madeira, após ter terminado o curso de Direito em Coimbra.
Para dirigir a luta pela Autonomia Politica, contra o terrorismo separatista da FLAMA, ficou responsável o dirigente Rui Nepomuceno, que com grande perigo de vida e após muitas peripécias, conseguiu contribuir, decisivamente, para que fosse apreendida a gelamonite, os explosivos e as armas dessa violenta organização, que estavam escondidas no Santo da Serra.
Os militantes do Partido Comunista Português da Madeira, ainda colaboraram decididamente, para a criação da «União dos Sindicatos do Arquipélago da Madeira (USAM)», para a fundação da «União dos Caseiros da Ilha da Madeira (UCIM)» e do seu jornal «O Caseiro»; e também para durante algum tempo reeditar «O Comércio do Funchal», e de seguida o semanário «Farol das Ilhas».
Após a revolução de 25 de Abril, o PCP abriu a sua sede na Rua da Carreira no Funchal, em fins de Julho de 1974, e aumentou a sua base de apoio, com extrema dificuldade, pois foi vítima da violência da FLAMA, das constantes calúnias de toda a direita trauliteira, do centro-direita, e ainda da maioria do clero, encabeçado pelo bispo Santana; todos objectivamente servidos por uma extrema-esquerda radical, que apelidava os militantes comunistas de revisionistas e até de reformistas.
Apesar de tudo, o PCP concorreu às eleições para a Assembleia Constituinte, realizadas em 25 de Abril de 1975, com uma lista de candidatos formada por Arlindo Ferreira, Ana Paula Velosa, José Manuel de Freitas, Henrique Pereira, Rui Nepomuceno, e por Rogério Prioste. O resultado foi ter-se classificado em 4º lugar no conjunto dos seis partidos concorrentes, totalizando 2.086 votos pelo Círculo da Madeira.
No princípio do século XXI, apesar do feroz anticomunismo do PSD de Alberto João Jardim, e de certo radicalismo esquerdista da UPM, seguido da UDP, e agora do Bloco de Esquerda; o certo é que o PCP, quase triplicou a sua votação, e tem dois deputados eleitos para a Assembleia Legislativa Regional, e autarcas elegidos em quase todas as freguesias do Funchal, e até um vereador na Câmara Municipal dessa cidade.
E, se nas Eleições Regionais de 1976, a coligação APU obteve 1.959 votos (1,8%); em 1988 a CDU já teve 2.562 votos (2,0%); em 2.004 alcançou os 7.593 votos (5,51%); passando a ser a terceira força mais votada na cidade do Funchal.
O «Movimento Democrático da Madeira-M.D.M», foi formado, em 19 de Maio de 1974, por democratas de esquerda, mas também por outros do centro-esquerda e até do centro-direita, encabeçados pelos Drs. Fernando Rebelo e António Loja. Após conquistar para os seus dirigentes e militantes, por pouco tempo, os aparelhos do Governo Regional, e Local, acabou por se extinguir, definitivamente, nos finais desse ano, tendo alguns dos seus membros passado a militar nos tradicionais partidos políticos da esquerda e do centro da Região Autónoma da Madeira.
Em princípios de Maio de 1974, foi criado pelo grupo do «Comércio do Funchal», um movimento de esquerda, denominado «União do Povo da Madeira – UPM», que o autor deste trabalho também ajudou a organizar, tendo pertencido à sua primeira direcção. De facto, após ter sido organizada na sede do «Comercio do Funchal» a grandiosa manifestação comemorativa do 1º de Maio, também aí foram discutidos e aprovados os estatutos da «UPM», associação política com a qual passaram a se identificar a maioria dos membros dos «Padres do Pombal», a quase totalidade dos já politizados elementos do movimento operário católico (JOC), do «Centro de Cultura Operário» (CCO), e também a maioria dos quadros sindicalistas que, entretanto, iam saneando as direcções fascistas dos principais sindicatos madeirenses, passando a encabeçá-los.
Os mais destacados dirigentes foram Vicente Jorge Silva (que pouco depois seria saneado, como antes já o tinham feito com o autor), Milton Morais Sarmento, Paulo Martins, e Liberato Fernandes; que com alguns outros militantes promoveram, em 29 de Junho de 1974, uma Assembleia Organizativa no Pavilhão Gimnodesportivo do Funchal, para tornar pública a constituição do movimento, que passou claramente a seguir o modelo estalinista, então em vigor na República Popular da Albânia.
O 1º Comício da UPM realizou-se em 1 de Agosto de 1974, no Jardim Municipal, onde reafirmaram que pretendiam constituir uma «Democracia Popular Revolucionária», e que lutavam pela aplicação do Salário Mínimo Nacional, no arquipélago da Madeira, tal como tinha acabado de ser decretado no Continente.
Pouco depois, esta força política degenerou em formação da extrema-esquerda maoista, que saneou progressistas e os membros do PCP, incluindo o autor, a quem apelidavam de «revisionistas». O próprio Vicente Jorge Silva – que embora anticomunista, dedicou generosamente a sua juventude e parte da vida, à luta pela Democracia e pelo projecto daquele jornal – também não escapou à sanha radicalista, acabando por ser afastado da direcção desse órgão da imprensa, que tanto lhe ficou a dever. Aliás, o radicalismo esquerdista foi tão funesto, que transformou o «Comércio do Funchal» num intragável pasquim, que pouco tempo depois acabou por se extinguir, sem qualquer remissão.
Por influência de Milton Morais Sarmento, a «União do Povo da Madeira» – (UPM) – que não se tinha registado como partido com legitimidade para concorrer às eleições para a Assembleia Constituinte – decidiu que os seus militantes e dirigentes se candidatassem a esse acto, organizados na «Frente Eleitoral de Comunistas (Marxista-Leninista) – FEC (ML)», que afirmava estar «em Luta contra a exploração capitalista e contra o Fascismo», mas também contra os traidores e revisionistas do «PCP». De resto, esse delirante extremismo foi claramente expresso nos seus comunicados, onde apontavam que «o trabalho de Reconstrução do Partido Comunista, destruído pela traição revisionista é a tarefa central de todo o comunista».
A lista de candidatos foi constituída por Milton Morais Sarmento, Paulo Martins, Mário Fernandes, Dr. Ivo Caldeira, Clarisse Fernandes e Mateus Neto (morto pouco depois em Angola, no golpe esquerdista de Nito Alves contra Agostinho Neto), a qual apenas obteve 1.468 votos, nas eleições realizadas em 25 de Abril de 1975.
Após esse desaire eleitoral, – que a «UPM» explicou dever-se à confusão causada pela brusca mudança de símbolo e de sigla – os seus dirigentes continuaram a apoiar a intensa luta dos caseiros e dos trabalhadores. A título de exemplo, lembramos uma grandiosa manifestação realizada no Funchal em 19 de Setembro de 1975, contra a Independência da Madeira, em que participaram todos os militantes da «UPM», o «CIP» de Machico, três Comissões de Moradores, seis cooperativas e ainda sete Sindicatos.
Em 1 de Janeiro de 1976, após ter negociado a sua adesão à «UDP», a «União do Povo da Madeira – UPM» morreu ruidosamente, como sempre. Na verdade, num balanço feito ao «Diário de Notícias», publicado em 1 de Janeiro de 1976, referiam que durante o ano de 1975, verificou-se «um recrudescimento das actividades fascistas encabeçadas pelo PPD e a FLAMA, debaixo dos olhos paternalistas dos Comandos Militares. Acrescentavam que isso se devia ao facto «dos partidos burgueses (partido do Cunhal, falso partido Socialista e o PPD) estarem vendidos aos imperialismos».No seu delírio, caluniavam ainda que «o partido de Cunhal e o seu filhote MDP-CDE, seguiram uma política de desmobilização dos trabalhadores e de ataque às suas lutas»...
Resta concluir que apesar do grande sectarismo e embora com erros e aventureirismo, a «UPM», dirigiu fortes lutas de massas no campo e na cidade, fortaleceu o movimento sindical, e encabeçou, inicialmente, a pujante luta dos caseiros pelo fim da Colonia; acções que pela sua importância até explicam a originalidade do peso comparativo das forças da esquerda madeirense nas primeira década após o 25 de Abril. É que foi da «UPM» que saíram os fundadores da «FEC. /ML», mais tarde transformada na «UDP», que assim capitalizou junto do povo muito do trabalho dos activistas daquele movimento.
Com a finalidade de alargar a sua base de apoio, e sobretudo para preparar as eleições à Assembleia Regional, a «UPM» aderiu à «União Democrática Eleitoral – UDP», que se tinha legalizado no Continente em 19 de Fevereiro de 1975, formação que perfilhava uma organização maoista de modelo albanês, e que também pretendia reconstruir o «PCP».
Embora de forma pouco visível, dentro do seio da «UDP» existiam duas facções, que por vezes divergiam entre si:- os militantes do «Partido Comunista (Reconstruído) (PC (R)» - que eram mais radicais e afirmavam, que «tinham herdado as tradições da luta do proletariado português, luta essa conduzida pelo velho Partido Comunista antes da traição praticada pelo grupo burguês de Álvaro Cunhal», e por outro lado, uma fracção mais moderada - que procurava uma certa abertura, e tentava contrariar um extremismo esquerdista tão acentuado.
Em princípio, ou seja nas eleições para a «Assembleia da República» realizadas em 25 de Abril de 1976, a «UDP» apenas obteve 1492 votos, ou seja mais 24 votos do que a que um ano antes tinha contabilizado a «FEC (ML)». Todavia, nas eleições para a «Assembleia Regional» realizadas dois meses depois, e após o seu eleitorado se ter habituado à nova sigla, a «UDP» viu bastante aumentada a sua votação, tendo alcançado 5.466 votos (5,16%), e eleitos três deputados.
Porém, no início do séc. XXI, a «UDP» baixou, significativamente, o número de votantes, perdeu deputados e extinguiu-se sem ter reconstruído o «Partido Comunista Português», embora para ressuscitar no «Bloco de Esquerda».
Nas Eleições Regionais de 1976 a UDP teve 5.466 votos (5,1%), em 1988 subiu significativamente para 9.683 votos (7,7%), mas em 2004, com a sigla do «Bloco de Esquerda», apenas obteve 4.897 votos (3,56%).
Alguns católicos progressistas, independentes da esquerda, e militantes do «PCP» e do «PS», romperam com a «UPM» ou foram afastados pelo radicalismo desta. Também não se sentiam identificados com o «MDM», imputando a esse movimento compromissos cada vez maiores com a social-democracia e até com o Liberalismo. Assim, em Junho de 1974, organizaram a «Frente Democrática da Madeira – FPDM», a cuja direcção também pertenceu o autor destas linhas, ou seja um movimento de sinal socialista e democrático, que interveio nas lutas e iniciativas populares e camponesas, tendo realizado o seu primeiro comício no Jardim Municipal, em 5 de Julho de 1974.
Todavia, e apesar de terem aprovado um estatuto em tudo semelhante ao do «MDP/CDE», muito cedo verificaram-se rupturas entre ao seus militantes, sobretudo desencadeadas pela facção dos católicos progressistas que, encarniçadamente, pretenderam liderar o movimento. Como consequência dessas lutas intestinas, a «FPDM» extinguiu-se em princípios de 1975, após daí ter saído grande parte dos fundadores do «PS» da Madeira, e alguns católicos que dirigiram um grupo esquerdista apelidado de «FERP», que chegou a ter alguma influência nos Sindicatos dos Escritórios e dos Metalúrgicos.
O «Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses / Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (PCTP/MRPP)», seguidor dum esquerdismo maoista radical, infiltrado pela «CIA», e criado no Continente em 1970, sobretudo para combater o «PCP», teve alguma visibilidade no movimento revolucionário madeirense, mas somente nos três primeiros anos a seguir à «Revolução de 25 de Abril».
Não concorreu às eleições para a «Assembleia Constituinte», mas foi a votos pela primeira vez, no acto eleitoral realizado em 25 de Abril de 1976, para a «Assembleia da República», no qual apenas obteve 553 votos (0,48%).
Sem ter a mínima actividade na Região, no início do séc. XXI, ainda concorrem às eleições realizadas na Madeira, onde obtêm algumas centenas votos, na sua maioria de pessoas que pretendem votar no «PCP», mas que por engano, votam na foice e no martelo da sigla aleivosamente utilizada por aquele partido.
O «Movimento Democrático Português» (MDP/CDE)», organizado no Continente em 1969, teve alguma actividade na Madeira, sobretudo nos três anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974.
Proponham a aliança do Povo com o «MFA», defendiam «um Estado amplamente democrático, e um avanço para a democracia socialista», sendo que em 15 de Abril de 1975, realizaram o seu primeiro comício no «Teatro Municipal do Funchal», presidido pelo dirigente nacional José Manuel Tengarrinha.
Apresentaram-se às eleições para a «Assembleia Constituinte» numa lista composta pelo Eng.º Arlindo Oliveira, Gabriel Pestana, José Maria Pereira, Dr. Luís Jorge da Silva, Maria Teresa Abreu e Dr. Manuel Perestrelo; tendo obtido 1668 votos.
Ainda participam nas eleições autárquicas de Dezembro de 1966, mas coligados com o «MÊS» e o «PCP», e sob a sigla da «FEPU». A partir dessa data foi esmorecendo a sua actividade, até extinguirem-se pouco anos depois.
O «Movimento da Esquerda Socialista» (MES) também teve alguma actividade na Madeira, nos primeiros três anos anos seguintes à Revolução de 25 de Abril de 1974.
Nascido nas crises estudantis dos anos sessenta, este partido foi tornando-se claramente defensor dos princípios marxistas, facto que provocou a saída de destacados militantes, como por exemplo João Cravinho, Ferro Rodrigues e Jorge Sampaio, que aderiram ao «PS». Num apelo ao voto nas eleições para a Assembleia da República em 25 de Abril de 1976, escreviam que «o caminho que o MES aponta é o do Poder Popular, em que o povo não deixa para ninguém a sua defesa, e toma nas suas próprias mãos a direcção de toda a sociedade».
No arquipélago madeirense, aquele partido que se extinguiu em 1981, não concorreu às eleições para a «Assembleia Constituinte»; mas em 25 de Abril de 1976, participou no acto eleitoral para a «Assembleia da República», no qual obteve 1.071 votos (0,93%). Nas eleições Autárquicas de Dezembro de 1976, o MES coligou-se com o «PCP» e o «MDP», e concorreu a esse acto eleitoral integrados na «FEPU».
Outra das forças da esquerda da Madeira, formadas a partir da Revolução dos Cravos, foi o «Partido Socialista – PS», que tinha sido criado, no estrangeiro, um ano antes do 25 de Abril, mas que só exerceu actividades visíveis no arquipélago a partir de 1 de Setembro de 1974. Todavia, antes dessa data, um dos fundadores do PS na Alemanha, o arquitecto madeirense Gil Martins, foi encarregado de recrutar militantes e de criar todas as condições para organizar o núcleo regional na Madeira.
Esta força política, que tem sido o segundo maior partido político da Região, organizou, fundamentalmente, sectores da pequena e da média burguesia locais, e ainda franjas dos intelectuais e dos quadros técnicos. Estranhamente, o PS madeirense chegou a estabelecer convergências e coligações com os partidos colocados à sua direita, mas, até os primeiros anos do séc. XXI, nunca tentou qualquer unidade com a esquerda regional, facto que tem afastado da militância política, alguns dos seus simpatizantes mais progressistas.
Desde a sua constituição, o «PS-Madeira» tem sofrido sucessivas crises internas. Na verdade, logo em 1975, a facção cooperativista do «Balaio» encabeçada por Duarte Caldeira, opunha-se à facção do fundador Gil Martins, as duas opunham-se à facção da «JS», e todas desagradavam os sindicalistas, divididos entre a central sindical da «UGT» tão do agrado da direcção do Partido, e a «CGTP – Intersindical», diabolizada pela facção que resolveu «meter o socialismo na gaveta».
Obviamente, este crónico confronto, tem impedido a possibilidade de constituírem uma alternativa eficaz ao esmagador poder que o «PPD/PSD», desde sempre alcançou no Arquipélago da Madeira; embora no sector Autárquico, tivessem chegado a ter a Presidência das Câmaras de Machico e do Porto Santo, já perdidas no princípio do séc. XXI.
Acresce que a decisão aventureirista de ocupar, em 1 de Março de 1975, o edifício dum Banco para aí instalar a sede do partido, também afastou do «PS» muitos democratas moderados. As consequências só não foram maiores, em virtude do «Partido Socialista», inicialmente, ter defendido uma ampla Autonomia Política, Administrativa e Financeira, e até a regionalização dos Bancos, Seguros, Tabacos, Cerveja, Moagem e Transportes.
Nas eleições realizadas em 25 de Abril de 1975, para a «Assembleia Constituinte», o «Partido Socialista» obteve 24.737 votos, que corresponderam a 19,5% dos votantes. Nas «Eleições Regionais» de 1976 contabilizou 23.968 votos (22,3%); em 1988 desceu para 21.055 votos (16,8%), mas em 2004 subiu para 37.898 votos (27,52%), consolidando a sua posição de 2º Partido Político do Arquipélago da Madeira.
No campo da direita, e como consequência da Revolução de 25 de Abril de 1974, a «Acção Nacional Popular – ANP»; único partido autorizado durante o Salazarismo e depois no Marcelismo, perdeu todo aparelho do Estado na Região, e todo o poder nas Freguesias e nos Municípios, tendo-se extinguido completamente, em muito pouco tempo.
Em fins de 1974, um punhado de idealistas da Independência insular, certos liberais autonomistas mais exaltados e alguns retornados das ex-colónias portuguesas, formaram um movimento separatista, denominado «FLAMA – Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira». Pouco depois, a estes se juntaram alguns grandes detentores dos meios de produção e ex-fascistas e colonialistas, os mesmos que antes cantavam «Angola é Nossa», o que bem revela que não eram movidos por qualquer ideal independentista, mas apenas pretendiam separar-se das grandes transformações económicas, políticas, sociais e culturais verificadas no Continente, logo a seguir à Revolução de 25 de Abril.
O único cimento que ligava pessoas com motivações e interesses tão opostos, era o anti-comunismo, muitas vezes primário, e potenciado pelo radicalismo da extrema-esquerda, que nos anos quentes do «PREC», alarmou grandes camadas da burguesia madeirense. De resto, além da «Flama» ter sido tolerada pelo Brigadeiro Azeredo, o bispo Santana também acicatou os ânimos, ao escrever no «Jornal da Madeira», cuja direcção confiou ao Dr. Alberto João Jardim, que na Ilha estava a «dar-se uma autêntica invasão de marxistas nas escolas primárias e secundárias, nos hospitais, postos de saúde e noutras instituições (…). Tudo leva até a crer que os mesmos traidores que ofertaram as Províncias Ultramarinas aos Russos, estão prontos a proceder do mesmo modo com a Madeira». E, maquiavelicamente, Santana insinuava mesmo, que Kadhafi estava interessado nesse diabólico plano…
Por tudo isso, alguns flamistas organizaram uma brigada armada denominada «B R I M A», que por vezes à revelia da direcção política do movimento, foi responsável por um surto de grande violência bombista e de actos de fogo posto, dos quais a primeira vítima neste Arquipélago foi o autor deste estudo.
Mas, o certo é que os partidos da direita (PPD e o CDS); o bispo Santana; e alguns sepinolistas serviram-se da «FLAMA»., em tudo o que lhes interessava na cruzada contra o que chamavam o «perigo do avanço do PCP e do comunismo». Também o Governo Regional do «PSD», sempre que pretendia mais dinheiro e facilidades do Continente, agitava o espantalho da «FLAMA» e do separatismo; mas quando lhe convinha, acusava esse movimento de aventureirista e anti-patriótico.
Apesar de dividida pelas contradições ideológicas dos seus apoiantes e dirigentes, minada por fraccionismos e enfraquecida por falta de liderança, a «FLAMA», chegou a entusiasmar, entre 1975 a 1977, largos sectores da burguesia insular e serviu para travar o crescimento da esquerda madeirense.
Após a consolidação dos Governos Regionais do «PSD-PPD», os poucos operacionais - que sem pretenderem benesses políticas ou económicas, apenas agiram motivados pelos seus exacerbados ideais independentistas - sentiram-se frustrados e desiludidos, pois a vida ensinou-lhes que, afinal, serviram de trampolim, para que um grupo de políticos medíocres e oportunistas ganhasse mordomias, privilégios e o poder político, social e económico. Também lamentam a morte dos seus jovens companheiros Rui Alberto Figueira da Silva, ceifado no Porto Santo, pela bomba que transportava, e Alírio Paulo Fernandes, que se suicidou ou foi morto, nas masmorras militares do Forte de Santiago.
Quanto a Jorge Cabrita, o autor destas linhas apenas pode esclarecer que numa noite de 1977, este jovem apareceu-lhe em casa, cheio de pânico e pedindo a protecção do «PCP», pois segundo afirmava, os flamistas com quem tinha colaborado queriam matá-lo, por o considerarem traidor. Estava tão apavorado, que rogava, encarecidamente, para ser preso, pois só na Cadeia se sentiria em segurança, e teria condições para denunciar onde estava escondida a gelamonite, e o restante material de guerra da «FLAMA». Uma vez confiado às autoridades, a Polícia Judiciária, apoiada por militares, apreendeu grande quantidade de explosivos e armamento no Santo da Serra, o que constituiu um rude golpe no movimento separatista, obrigado a travar a sua actividade bombista e terrorista, contra os elementos da esquerda madeirense.
Depois de sair da prisão, onde sofreu ameaças dum guarda prisional flamista, que assim conseguiu que este jovem não denunciasse à polícia os seus companheiros de terrorismo, Jorge Cabrita, não se sabe bem como, voltou a conviver, ou foi apreendido pelos seus antigos comparsas e acabou por falecer no Santo da Serra, em circunstâncias bem pouco claras...
A partir da década de oitenta, a «FLAMA» foi-se extinguindo e, praticamente, dela pouco mais restou, do que as cores -sem as quinas – da bandeira proposta há anos por esse movimento separatista, hoje estampada na bandeira da Região Autónoma da Madeira», como aliás vem bem referido na Revista da Direcção Regional dos Assuntos Culturais, «Islenha».
Mais pacifista e muito menos radical do que a ´«FLAMA», também interveio na vida política insular, outra força genuinamente madeirense, denominada o «Movimento de Autonomia das Ilhas Atlânticas» (MAIA), que resultou de reuniões clandestinas e estudos realizados antes da Revolução de 25 de Abril, por diversos autonomistas do centro direita e da direita, de que salientamos José António Camacho, José Maria da Silva, Crisóstomo de Aguiar, e Carlos Lélis.
No seu programa base publicado em 5 de Janeiro de 1975, o «MAIA» «proponha a liquidação imediata da situação de Colónia existente nas relações entre Portugal Continental e as ilhas da Madeira e do Porto Santo; e a sua substituição por uma avançada Autonomia Política, pois só pela Autonomia se atinge o moderno Estado Democrático de Direito. Os principais órgãos dessa Autonomia seriam uma Câmara Legislativa com vastos poderes, Secretários Executivos e um Governador eleito por sufrágio directo». O «MAIA» também defendia a regionalização da Organização Judicial, e dos serviços periféricos da Administração Pública, salvo os Negócios Estrangeiros e a Segurança Interna e Externa; sendo que reivindicava que todos os impostos e tributos fiscais cobradas no arquipélago, fossem receita da Região.
A grande maioria dos membros do «MAIA» aderiu ao «PPD», logo que este partido se constituiu na Madeira, tendo alguns deles ocupado importantes cargos no Governo, no Parlamento e na Assembleia Legislativa Regional. Foram até as suas teses autonomistas, conjugadas com a acção do Dr. Alberto João Jardim, que em grande parte inspiraram a doutrina autonómicas que o «PPD/PSD» defendeu e tem levado à prática.
O «PPD/PSD» apenas conseguiu constituir-se na Madeira, a partir de Agosto de 1974. Este partido, que não rejeitou os favores da «FLAMA» quando se tratava de explorar o anti-comunismo primário, organizou padres e católicos conservadores, sectores da grande, da média e da pequena burguesia, quadros técnicos, e grande parte do campesinato analfabeto e despolitizado, que lhe foi endossado por obra e graça da esmagadora maioria do clero madeirense.
Apesar de António Gil ser considerado o seu primeiro militante, a Comissão Organizadora do PPD Madeira era constituída pelo Dr. Jorge Malheiro Araújo, Dr. Henrique Pontes Leça, Dr. João Florêncio Gomes Aguiar, Jorge Bettencourt Sardinha, e Henrique Augusto Rodrigues Abrantes.
E foi a equipe por eles liderada, reforçada pelo Eng.º Ornelas Camacho, e pelos Drs. Acácio Matias, Nélio Mendonça, Emanuel Rodrigues, Luciano Castanheira e outros, quem dirigiu a acção do partido, até à sua retumbante vitória nas eleições para a «Assembleia Constituinte», nas quais contabilizou 78.200 votos ou seja 61,9% dos votantes.
Até esse acto eleitoral, o Dr. Alberto João Jardim foi um importante mas incómodo militante de base, pois o facto de ter colaborado com o salazarismo e o marcelismo, não lhe permitiu dirigir, inicialmente e a seu gosto, o partido criado pelo antifascista Dr. Sá Carneiro. Só depois de vencidas as Constituintes, e após o Bispo Santana lhe ter confiado a direcção do órgão da Diocese «Jornal da Madeira», é que Alberto João conseguiu dirigir uma activa facção interna, que afastando alguns militantes sociais-democratas da primeira hora, tomou conta das rédeas do PPD, que ainda detém no início do século XXI. Deste modo, Alberto João Jardim apenas foi eleito «Presidente da Comissão Política Regional» do partido em 21 de Agosto de 1976, após ter integrado a lista dos candidatos a deputados nas eleições para a Assembleia Regional de 27 de Junho.
Para conseguir chegar ao poder, o «PPD/PSD», chegou a afirmar princípios que depois renegou; ou seja que «a Liberdade, Igualdade e Solidariedade são os grandes ideais do Socialismo e realizam-se na Democracia. Não há verdadeira Democracia sem Socialismo, nem Socialismo sem Democracia» (Programa do PPD, saído do Iº Congresso Nacional de 23/11/1974). E já antes, num documento regional distribuído em Setembro de 1974, afirmavam, piamente, que embora não sendo marxistas, «tomam em consideração as contribuições da análise económica marxista». Por outro lado, o «PPD/PSD» e o seu principal dirigente Dr. Alberto João Cardoso Jardim, desde o início da sua actividade partidária na ilha, defenderam, intransigentemente, uma ampla Autonoma Política para o arquipélago da Madeira.
Desde que ganhou as eleições regionais de 1976, o «PPD/PSD», têm detido os aparelhos do Governo Regional e das Autarquias da região da Madeira, salvo algumas vezes em Machico e no Porto Santo. Porém, a partir de finais do séc. XX, tem apresentado alguns sinais de desgaste e descontentamento, sobretudo nos meios urbanos, havendo já indícios de algumas divergências entre os delfins do Dr. Alberto João Jardim.
Nas «Eleições Regionais» de 1976 o «PPD/PSD» obteve 64.143 votos (59,8%); em 1988, subiu para 77.193 votos (61,6%); e em 2004 desceu para 73.904 votos (53,67%); embora continue a ser o maior Partido Político do Arquipélago da Madeira.
A título de curiosidade, informamos que antes de aderirem ao PPD, os seus principais militantes, tais como Alberto João Jardim, Luciano Castanheira, Henrique Pontes Leça, e António Aragão de Freitas, tentaram formar um movimento conservador intitulado «Frente Centrista da Madeira», que em resultado de divergências sobre a forma de extinguir a Colonia, quase nem chegou a ter actividade.
Apesar de ter afirmado na sua Declaração de Princípios, publicada em 19 de Julho de 1974, que também «desejava atingir, um dia, o ideal da sociedade sem classes», e até reconhecer o princípio da autodeterminação das colónias, o certo é que o «Centro Democrático Social – CDS» teve extremas dificuldades, em se organizar no país e sobretudo na Madeira, pois, sistematicamente, o «PPD», e por vezes, a extrema-esquerda, o acusavam de representar os senhorios e o grande capital, e de ser o fiel herdeiro e depositário dos valores da extrema-direita, do Estado Novo fascista, e da Madeira Velha. Todavia, mesmo com essas dificuldades, os seus fundadores Dr. Baltazar Gonçalves (que em 1978 foi Secretário de Estado do Turismo do II Governo Constitucional) e o Dr. Cabral Fernandes; organizaram, predominantemente, durante o Verão de 1974, sectores da média e da alta burguesia, e alguns quadros técnicos; sendo que em Agosto desse ano instalaram a sede do partido no Funchal, à Rua 31 de Janeiro. Contudo, só em 14 de Março de 1976, e a muito custo, é que conseguiram realizar, na freguesia da Camacha, o seu primeiro Comício no arquipélago madeirense.
Este partido - que também pactuou, por vezes, com a «FLAMA», sempre que necessitava de agitar o espantalho do comunismo - nos seus documentos para campanha eleitoral à «Assembleia Constituinte», denunciou a intolerância, e as enormes dificuldades que lhe foram criadas, «para divulgar a mensagem pacífica, profundamente social, reformista e cristã do seu programa». Depois prometeu, entre outras medidas, defender uma solução para a Colonia, «o direito de a todas as famílias obterem habitação própria e condigna, e um sistema de saúde tendencialmente gratuito»; terminando por também defender para a Madeira «uma forte Autonomia no campo político, administrativo, económico e financeiro».
Após ter tentado constituir uma coligação pré-eleitoral com o «PDC» do Dr. Alcino Barreto, no ano em aquele partido foi impedido de candidatar-se às Constituintes, por entenderem que não era democrático; o CDS-M concorreu, sozinho, a essas eleições, realizadas em 25 de Abril de 1976, nas quais obteve a razoável votação de 12.669 votos
Após alguns desaires nas eleições Autárquicas e para a Assembleia Regional, o «Centro Democrático Social» beneficiou no início da década de noventa, das consequências positivas duma estranha aliança eleitoral para as Autarquias, com a qual o «PS» o brindou, embora alguns dos seus militantes considerem esse facto como tendo sido um presente envenenado.
Nas «Eleições Regionais» de 1976 o «CDS» contabilizou 10.185 votos (9,5%); em 1988 manteve-se nos 10.244 votos (8,2%); e em 2004 baixou para 9.675 votos (7.03%).
O «Partido da Democracia Cristã» (PDC) constituiu-se no Continente a partir do Verão de 1974, tendo sido o seu Secretário-Geral o Major Santos Osório. Num comunicado afirmavam «ser um Partido que defende o progresso, a justiça social, e a revolução permanente, não em Marx mas em Cristo»; professando, portanto, o conceito social e económico, defendido pela Igreja mais conservadora.
Este partido da direita acordou com o ´«CDS», a criação duma coligação eleitoral denominada «União do Centro e Democracia Cristã», que o Dr. Alcino Barreto, seu principal dirigente na Madeira, tentou alargar ao arquipélago. Simplesmente, o processo revolucionário agudizou-se, e pelo «Decreto-Lei 621-C/74» de 15 de Novembro, o «MFA» e o «Governo Provisório da República», consideraram que o «PDC» não era verdadeiramente democrático, pelo que foi impedido de concorrer às eleições.
Passada essa conjuntura, o «PDC» madeirense acabou por ir a votos na primeira eleição para a «Assembleia da República», realizada em 25 de Abril de 1976, tendo obtido 1412 votos, que representavam (1, 23%) da votação.
Uma outra força política com fraca visibilidade na Madeira é o «Partido Popular Monárquico» (PPM) constituído no Continente em 23 de Maio de 1974, e que organiza várias sensibilidades monárquicas.
O seu principal dirigente nacional é o Arqº. Gonçalo Ribeiro Teles, monárquico do centro direita, que tem orientado o partido, para uma acção, predominantemente, de defesa do ambiente, da qualidade de vida, e do património histórico, mas numa perspectiva conservadora.
O PPM concorreu às eleições para a Assembleia Constituinte, nas quais apenas obteve 456 votos (0,4%) dos votantes.
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