segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Funchal Património Histórico da Humanidade


Após a redescoberta do arquipélago da Madeira em 1418, o Povoamento organizado das ilhas foi encetado em 1425; e poucas décadas depois, o Funchal conheceu um expressivo crescimento urbanístico, no sentido Leste – Oeste, espraiando-se desde o primitivo burgo de Santa Maria Maior, até abarcar todo o espaço entre as três ribeiras que desaguam na sua ampla e acolhedora baía.
Esta rápida expansão da cidade, que se deveu, essencialmente, ao grandioso desenvolvimento económico, social e artístico proporcionado pela frutuosa exploração do açúcar – então alcunhado de ouro branco - foi reconhecida por D. Manuel I, que distinguiu e honrou os funchalenses, ao legislar, por alvará de 17 de Agosto de 1508, «que a Câmara Municipal do concelho fosse governada pela mesma maneira por que se rege a de Lisboa».
Quatro dias depois, por Carta Régia de 21 de Agosto de 1508, esse monarca elevou a Vila do Funchal ao estatuto de cidade, «com todos os privilégios e insígnias das demais cidades do Reino».
Ao abeirar-se o sexto centenário da chegada dos portugueses ao arquipélago da Madeira, e para comemorar, condignamente, esse portentoso acontecimento, somos de opinião que os madeirenses deveriam desenvolver diversas acções, iniciativas e diligências, para demonstrar que - tal como sucedeu com a cidade açoriana de Angra do Heroísmo - a zona histórica do Funchal desfruta de notáveis condições monumentais, ambientais e culturais, bem como de todos os pergaminhos dum passado grandioso, absolutamente dignos para ser reconhecida pela UNESCO, como Património Mundial da Humanidade.

Na verdade, no âmbito da História, o Funchal foi durante muitos séculos o principal ancoradouro do Atlântico, além de ter sido a primogénita urbe ultramarina portuguesa, e sobretudo, uma das primeiras cidades que os europeus construíram para além da Europa.
Por outro lado, a maioria dos historiadores afirmam que foi no Funchal que se desencadeou a fase inicial do fenómeno da globalização.
Acresce que, entre 1519 a 1553, por efeito duma bula de Leão X, o Funchal também constituiu a maior Diocese do Mundo, pois foi a cidade onde se instalou a sede da metrópole Secular e Eclesiástica dos domínios ultramarinos portugueses de toda a África, Etiópia, Brasil e Oriente.
De salientar ainda, que nos séculos XV e XVI, o porto do Funchal desempenhou um papel primordial na expansão e nas grandes descobertas ultramarinas, pois foi a porta de saída e a charneira nas rotas e nos contactos da Europa com a África, a América e a Ásia; funcionando desse modo como verdadeira ponta de lança dos Descobrimentos Portugueses.
Foi também na Madeira, e sobretudo no Funchal, que os marinheiros e pilotos nacionais se iniciaram na aplicação das técnicas modernas e no aperfeiçoamento das experiências de navegação em alto mar, que poucas décadas depois possibilitariam que os portugueses fossem o primeiro povo do mundo, que se implantou nos quatro cantos do Planeta.
A influência da Madeira foi ainda determinante para que Cristóvão Colombo descobrisse a América, pois esse famoso navegador aprendeu no Funchal novas técnicas de navegar no Atlântico, e conviveu com muitos marinheiros madeirenses, que lhe deram preciosas informações sobre os numerosos indícios da existência de terras a Poente. Foi também no nosso arquipélago que Colombo conheceu e estudou as cartas de marear de Bartolomeu Perestrelo, seu sogro e capitão-mor do Porto Santo; factos que contribuíram, decisivamente, para o seu ambicioso plano de traçar pelo Ocidente, o caminho marítimo para a Índia.
Foi também na Madeira, nomeadamente no Funchal, que foram experimentadas, testadas e aperfeiçoadas as Capitanias, como modelo de organização e de gestão territorial, sistema que anos depois o Poder Central, pôs em vigor em todo o mundo onde assentaram e se estabeleceram os portugueses.
Este papel de vanguarda do Funchal foi tão determinante que o célebre historiador Charles Verlinden não hesitou em afirmar que, no séc. XV, a Madeira e o porto do Funchal foram «o verdadeiro centro da expansão atlântica portuguesa».
No mesmo sentido, o famoso Frederic Mauro mencionou que, nesse período, o arquipélago e o porto do Funchal «podem ser considerados o centro de gravidade do Atlântico».
Por outro lado, aproveitando o portentoso crescimento do seu orçamento pessoal, ao receber como tributo o quarto de todo o açúcar produzido sobretudo no Funchal, o Infante D. Henrique - que além de senhorio da Madeira era protector da Universidade de Lisboa - modernizou essa Instituição, introduzindo-lhe profundas reformas, nomeadamente a criação das aulas de Matemática e Astronomia, que foram verdadeiramente decisivas para os avanços científicos da navegação pelos astros, que tornaram possível a gesta dos Descobrimentos Portugueses.
Foi também no Funchal, que Diogo Teives inventou o engenho mecânico movido a água, que pouco depois seria aplicado no fabrico do açúcar, instrumento que além de aumentar decisivamente a produtividade, permitiu encetar a nível mundial, a primeira etapa da Revolução Industrial, também conhecida por Revolução Ecológica.
Na verdade, nos engenhos da Ilha passou a praticar-se o método moderno da produção em cadeia, a utilização de ferramentas específicas, e a automatização, e divisão do trabalho, ou seja tarefas parciais e segmentadas - tudo típico do modo de produção industrial.
De realçar ainda que foram os madeirenses que implantaram esse método de fabrico do açúcar em São Tomé, nas Antilhas e no Brasil, constituindo a sua experiência o factor decisivo que possibilitou o sucesso dessa valiosa cultura, em paragens tão longínquas; para onde, além da cana, os habitantes da Madeira e do Funchal, também exportaram as técnicas e até a mão-de-obra especializada.
Lembrar também, que foi no Funchal que, a partir do século XVII, floresceu pela primeira vez em todo o mundo a exploração do Turismo, numa época e num tempo em que este vocábulo nem era conhecido como sinónimo de qualquer actividade económica.
Acresce, que como consequência do enriquecimento proporcionado com a comercialização do açúcar, a nobreza madeirense, organizou numerosas expedições para a conquista de Praças no Norte de África, nomeadamente Castro Real, Safin, Arzila, Santa Cruz do Gué e Azamor, onde, por vezes, as forças do capitão-mor do Funchal só eram excedidas pelo exército real e pelas hostes do Duque de Bragança.
De igual modo foi importante a contribuição do Funchal na tarefa do descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia, e depois na conquista de feitorias portuguesas no Oriente, onde muitos madeirenses se salientaram ao comando das suas caravelas, como por exemplo Rodrigues de Noronha, capitão-mor do Mar da Índia e comandante de Ormuz; Lopo Mendes de Vasconcelos, cunhado de Vasco da Gama e o seu filho Manuel de Vasconcelos herói do cerco de Diu, e capitão de Cananor e Moluco; António de Abreu companheiro de Afonso de Albuquerque nas conquistas de Malaca e de Ormuz, que ficou célebre por ter alcançado as Molucas, em 1511, e sobretudo, por ter descoberto a Austrália; e ainda Jordão de Freitas, que pelejou em Mombaça, participou na armada que, em 1531, atacou Diu; e pouco depois, em 1534, seria capitão da fortaleza de S. João na ilha de Ternate, donde após afastar os castelhanos, controlou a produção e comercialização do cravo das Molucas; tendo sido dono e senhor de Amboino e Malucas, duas ilhas desse famoso arquipélago.
Por tudo o exposto, não surpreende que o famoso historiador Braudel tivesse apelidado de «Mediterrâneo Atlântico» a este novo mundo insular, cuja cidade mais desenvolvida foi o Funchal, e escrevesse: - «A vida exterior das ilhas e o papel que desempenharam no primeiro plano da cena da história, é de uma amplitude que não se esperaria de mundos tão pequenos. A grande história, com efeito, passa frequentemente pelas ilhas; acaso seria mais justo, talvez, dizer que se serve delas».

Além de todos estes relevantes pergaminhos históricos, e apesar da devastadora delapidação de muitas preciosidades, a zona histórica do Funchal ainda possui um conjunto de monumentos dignos duma Cidade Património Mundial da Humanidade.
Da Arquitectura dos séculos XV e XVI, o Funchal possui a magnífica Sé, com o seu fabuloso tecto mudéjar, o rico púlpito, o admirável cadeiral, e a majestosa capela-mor com um excelente políptico de doze painéis flamengos; a Igreja e o Convento de Santa Clara, onde estão sepultados os três primeiros capitães da Capitania do Funchal, com paredes revestidas de maravilhosos azulejos flamengos e hispano-mouriscos, e um notável sacrário de prata do Séc. XVII; a Torre do Palácio de São Lourenço, com uma típica cantaria manuelina; Parte do Edifício da Alfândega Nova, onde se ergue um raro tecto de alfarge e belas arcarias e portais góticos; a esplêndida Igreja da Encarnação; e ainda os soberbos vestígios arqueológicos, expostos no Museu da Quinta das Cruzes, nomeadamente pias baptismal, janelas e cantarias da época do esplendor açucareiro.
Da Escola Barroca dos séculos XVII e XVIII destacamos a fascinante Igreja do Colégio, com quatro elegantes esculturas em nicho na fachada, e recheada de ricas decorações de talha dourada, provenientes da oficina do célebre Brás Fernandes; e também as igrejas do Carmo, de São Tiago e de São Pedro; as capelas de Santo António da Alfândega e da Senhora das Angústias; as três Fortalezas da Baía do Funchal; e o majestoso Forte do Pico. Lembramos ainda o mobiliário, pinturas, pratas, imagens, tapeçarias e porcelanas expostas nos museus da cidade, e ainda algumas casas senhoriais, de que são exemplo os palácios de São Lourenço e do Conde de Carvalhal (hoje C.M.F), e os palacetes onde estão instalados o Tribunal de Contas e o Tribunal de Família.
Do estilo neoclássico, escolhemos a título de exemplo, a Igreja Inglesa da Sagrada Trindade; e o palacete do Cônsul Inglês Henry Veitch, hoje sede do Instituto do Vinho da Madeira.
Do século XIX e do Romantismo, invocamos o Teatro Municipal Baltazar Dias, o Reid’s Hotel, e as maravilhosas Quintas do Funchal, tão soberbas e singulares, que por si só seriam dignas duma classificação autónoma de Património Mundial.
Por fim, do século XX, recordamos o Liceu do Funchal e o Mercado dos Lavradores ao gosto Arte Deco e da autoria do arquitecto Edmundo Tavares; alguns significativos exemplares do estilo Estado Novo como o Palácio de Justiça, de modelo neo-barroco conforme o Banco de Portugal; o moderno Casino Park Hotel da autoria do célebre Óscar Nimeyer, ao gosto modernista; e ainda as esculturas de Francisco Franco, Leopoldo Almeida e Anjos Teixeira.
Finalmente, destacamos um amplo conjunto de fontanários e de residências funchalenses dos séculos XVII e XVIII, com os seus óculos de pedra nas paredes, as torres de avista-navios, varandas de cantaria, o lagar de cocho no rés-do-chão, os mirantes, balcões, casas de prazer, e tectos de estuque, de que ainda abundam harmoniosos exemplares na zona velha de Santa Maria, e nas ruas da Alfandega, do Esmeraldo, dos Netos, dos Aranhas, das Mercês, das Pretas, da Mouraria, dos Ferreiros, da Carreira, da Conceição e do Bispo.

Acresce que, após a conquista da Autonomia Política da Madeira, os governantes decretaram que uma grande fatia da ilha, englobando cerca de 2/3 do seu território, passasse a constituir o fabuloso «Parque Natural da Madeira», onde todas as formas de vida encontram-se rigorosamente defendidas, não sendo permitida a sua captura, devastação ou exportação para o exterior.
Fazem parte desse «Parque Natural» madeirense a «Floresta Laurissilva», que remonta ao Período Terciário, e é a maior e mais bem conservada do mundo, com uma área de 15.000 hectares que constitui uma «Zona de Protecção Especial» no âmbito da Directiva Aves Selvagens, e um «Sítio de Interesse Comunitário» ao abrigo da directiva Habitats, passando também a ser a partir de 1992, «Reserva Biogenética do Conselho da Europa»; que foi abrangida, em Dezembro de 1999, na relação da UNESCO, como «Património Natural da Humanidade».
A «Floresta Laurissilva» distribuída entre os 300 e os 1.300 metros de altitude, constitui uma autêntica «mata relíquia» da flora mediterrânea do Terciário, que tinha abundado no Sul da Europa e no Norte de África, antes das glaciações acontecidas há vinte mil anos a terem extinto por completo. Para fazermos uma pálida ideia da sua riqueza e valor botânico, basta salientar que está recheada com mais de 60 endemismos madeirenses, além de mais de 40 espécies próprias da macaronésia.
Esta floresta compõe-se de árvores de grande porte, na sua maioria pertencentes à família das «Lauráceas», nomeadamente o loureiro, o vinhático, o til, o barbusano e o cedro, para além de outras como o pau branco, o aderno, o folhado, o sanguinho e o perado. Acresce que por debaixo da copa dessas árvores também abundam arbustos de folha perene, como a uveira, o piorno, e as urzes, sendo que no estrato mais rasteiro encontram-se fetos, musgos, hepáceas, líquenes e outras plantas de pequeno porte.
A Laurissilva é também de extrema importância pela «produção» de água através das chamadas «precipitações ocultas», que as folhagens das árvores fazem surgir com abundância, através das condensações do vapor de água dos nevoeiros, e que caindo no solo aumentam os recursos hídricos da ilha, proporcionando abundantes caudais, de que dependem grande parte das irrigações dos campos agrícolas e dos centros urbanos.
No interior da floresta, que é especialmente rica em moluscos terrestres e insectos, podem ainda ver-se várias espécies de aves raras com realce para o tentilhão, e o Pombo Trocaz, que só existe na Madeira.
Por sua vez, a «Reserva Natural da Ponta de São Lourenço», constitui uma área semi-árida, sem árvores, mas com vegetação rasteira e esparsa, com 9 Km de comprimento, uma largura máxima de 2 Km, e uma altura de 180 metros, formada por uma península, pelos ilhéus do Desembarcadouro, da Cevada ou da Metade, e ainda pelo ilhéu do Farol ou de Fora; conjunto que em 1982 também ficou incluído no «Parque Natural da Madeira», tendo sido classificado como «Reserva Parcial e Integral», com a finalidade de preservar a sua herança geológica, bem como a fauna e a flora desse espaço.
Na verdade, apesar da sua reduzida dimensão, a área da Ponta de São Lourenço, possui uma vegetação única na Macaronésia, além muitas espécies de aves, sendo que nos últimos anos, por vezes, ali têm sido vistos lobos-marinhos, vindos das Desertas.
As suas dunas da Piedade, guardam 54 espécies de moluscos terrestres fósseis, entre elas, 14 já extintas, duas das quais exclusivas da Madeira. Além desse depósito fóssil, povoam aquele exíguo espaço 35 espécies de moluscos terrestres, sendo 25 endémicos do nosso arquipélago.
Em 1986, o «Parque Natural da Madeira» também ficou enriquecido com a «Reserva Parcial do Garajau», localizada entre o cais do Lazareto e a Ponta da Oliveira, que constitui a primeira reserva exclusivamente marinha criada em Portugal, na qual é proibida qualquer tipo e pesca, estando também condicionada a navegação na sua área. Entre a sua rica fauna conta-se o Mero que pelo grande porte é uma atracção turística, e ainda uma variedade de outras espécies costeiras cativantes para os amantes do mergulho e das fotografias aquáticas, tais como a Moreia, o Sargo e as típicas Enguias de Jardim (Taenioconger longíssimus), características dos mares da Madeira.
Pelo «Decreto-lei Regional nº 11/ 1997», foi ainda criada a «Reserva Natural do Sítio da Rocha do Navio», localizada entre a Ponta de São Jorge e a Ponta do Clérigo em Santana. Nesta reserva com 1.710 hectares, integrada no «Parque Natural da Madeira», protegem-se espécies como o Badejo Amarelo e o Mero, cuja captura através da caça submarina é proibida. Está ainda protegido um núcleo de Zimbros existente no Ilhéu da Rocha do Navio.
Desde 2001, pertence, igualmente, ao «Parque Natural da Madeira» a reserva do «Maciço Montanhoso Oriental», mais precisamente os patamares acima dos 1.600 metros, localizados entre o Pico do Areeiro e o Pico Ruivo, que foi classificada como «Zona de Protecção Especial», e ainda «Sítio de interesse Comunitário». Nesta reserva nidifica a Freira da Madeira, uma das aves marinhas mais raras do mundo, endémica da nossa ilha, actualmente com uma população de 70 a 80 exemplares, que nidificam em pequenos patamares denominados «mangas», sitos em zonas inacessíveis da escarpa; e que foram salvas da extinção graças aos persistentes cuidados de G. Maul, P. Zino e João de Gouveia; mas que continuam em perigo de exterminação.
Também faz parte do «Parque da Madeira», a «Reserva Natural das Ilhas Desertas», a qual constitui o último refúgio atlântico da Foca Monge (Monachus monachus), que é a mais rara do mundo, com uma população que não excede os 500 indivíduos. Quando em 1988 começou o programa para a conservação daquela espécie rara, apenas existiam nas Ilhas Desertas entre 6 a 8 exemplares, que se refugiavam em grutas, muito longe das praias abertas. Em 2009, graças à protecção legal das Ilhas e à construção, em 1997, de uma «Unidade de Reabilitação», já existem cerca de 30 indivíduos, que frequentam as praias abertas desses ilhéus para amamentarem as crias, tendo já começado a aparecer os primeiros registos de lobos-marinhos nas costas da própria Madeira.
Em 1990, as Desertas foram reconhecidas como «Área de Protecção das Ilhas Desertas», e poucos anos depois, em 1995, passaram a «Reserva Natural», tendo ainda sido classificadas pelo Conselho da Europa como «Reserva Biogenética», com a proibição total da actividade da pesca, incluindo a submarina, e de navegar ou fundear nos seus mares, sem uma credencial dos Serviços do «Parque Natural da Madeira».
As águas que separam as Desertas das costas da Madeira são frequentadas, entre outros géneros, por tartarugas marinhas, que vindas das costas americanas e transportadas pela Corrente do Golfo, passam no arquipélago madeirense na sua emigração transatlântica. Por sua vez as tartarugas marinhas africanas, que vêm da Mauritânia e de Cabo Verde, na sua fase pelágica, também cruzam o mar da Madeira; sendo que duas espécies estão protegidas, desde 1985, pelo «Decreto Legislativo Regional nº18/85/M» de 7 de Setembro.
Outra das componentes do «Parque Natural da Madeira», é a «Reserva Natural das Ilhas Selvagens», criada em 1971, com o estatuto de «Reserva Natural Integral», que é uma das mais antigas do nosso País, e foi galardoada com o «Diploma Europeu do Conselho da Europa». Estas ilhas que já eram conhecidas na antiguidade e que foram redescobertas no séc. XV por Diogo Gomes são consideradas um autêntico santuário para a nidificação de aves, nomeadamente da maior colónia mundial de Cagarras, e ainda o Calcamar, a Alma Negra, o Pintainho, e do raríssimo Garajau Rosado (Sterna dougalli
Na Selvagem Pequena e no Ilhéu de Fora, em virtude de nunca lá terem vivido animais herbívoros; existem mais de cem espécies de plantas vasculares; sendo onze delas endémicas; facto que representa a percentagem de endemismos mais elevada, por unidade de superfície existente em toda a Macaronésia. Por tudo isso está proibido o desembarque e o fundeamento de embarcações nas ilhas Selvagens, salvo se forem excepcionalmente autorizados pelos serviços do «Parque Natural da Madeira».
A ilustre bióloga Doutora Susana Sá Fontinha, num artigo que publicou na «Islenha» salientou que «a elevada e peculiar biodiversidade e a beleza das paisagens, tornam as Selvagens muito especiais. Esta Reserva constitui uma das principais áreas de nidificação de aves marinhas da Maraconésia e do Atlântico Norte, compreendendo habitates representativos e importantes para a conservação «in situ» da biodiversidade, em especial de espécies que se encontram ameaçadas a nível mundial. Estão aí identificados habitates naturais que se encontram ao abrigo da «Directiva Habitates» 92/94/CEE, nomeadamente bancos de areia permanentes cobertos por água do mar pouco profunda; lodaçais e areais a descoberto na maré baixa; enseadas e baías pouco profundas; falésias com flora endémica das costas macaronésias; e formações baixas de euforbiáceas junto às falésias».

Além do «Parque Natural da Madeira», o Governo Regional em conjunto com as autoridades religiosas tem contribuído de forma relevante para que Madeira possua um notável conjunto de Museus, onde se retrata a sua história e os seus costumes; e aonde também se poderão contemplar valiosas peças de todos os tipos da Arte e do Artesanato.
Embora de forma muito sumária focaremos os principais núcleos museológicos, começando por referir o «Museu de Arte Sacra», instalado no antigo Paço Episcopal da Diocese do Funchal, que possui uma valiosíssima colecção de pratas, conhecidas como o «Tesouro da Sé»; e um considerável núcleo de Arte Portuguesa dos séculos XVI, XVII e XVIII, nomeadamente pinturas entre as quais salientamos a «Ascenção de Cristo» de Fernão Gomes, esculturas como o «São Sebastião» de Diogo Pires o «Moço», e peças de ourivesaria, com destaque para a magnífica «Cruz Processional» oferecida à Madeira por D. Manuel I.
Salientamos; ainda um fabuloso conjunto de esculturas de Antuérpia, Malines e Bruxelas; magnificas peças de ourivesaria; e um maravilhoso lote de pinturas de Arte Flamenga do século XV e princípios do XVI, que é considerado como sendo dos maiores espólios existentes fora da Flandres, de que destacamos, entre outros, os famosos quadros de Gérad David, Bouts, Memling, Metsys, Van Cleve, Provoost, Pieter Coecke, Marinus Van Reymerswaele e Mabuse.
Outro importante conjunto de obras de arte está recolhido no «Museu e Parque Arqueológico da Quinta das Cruzes», assente numa bonita «quinta de recreio» madeirense, de finais do séc. XVIII, com Capela, Casa, Casinha de Prazer e Parque ajardinado, onde estão recolhidas preciosas colecções doadas por particulares, nomeadamente por Filipe César Gomes e João Wetzler.
No núcleo do Museu podemos encontrar valiosas peças de mobiliário português e inglês, destacando-se mobílias do tipo «Caixa de Açúcar»; magnificas pinturas, estampas e esculturas com realce para o retábulo flamengo «Natividade»; e ainda preciosos exemplares de ourivesaria; e excelentes cerâmicas do grupo das faianças e das porcelanas.
Também encontra-se exposto nos jardins um importante núcleo arqueológico que reúne exemplares provenientes de igrejas, capelas e edifícios públicos, tais como pedras de armas, lápides comemorativas e lages tumulares dos séculos XV até ao XIX, nomeadamente a pedra tumular do mestre construtor da Sé, Gil Eanes, e ainda parte do antigo pelourinho qutrocentista do Funchal e duas belíssimas janelas manuelinas do séc. XVI, esculpidas em pedras de basalto.
Por sua vez, Instalado no belo palácio romântico que pertenceu dos condes da Calçada, adquirido pelo Governo Regional nos anos oitenta, encontramos a «Casa-Museu Frederico de Freitas», onde está exposta a famosa colecção de Arte daquele advogado, que durante muitos anos residiu na mansão, e que em testamento deixou esse património à Região Autónoma da Madeira.
Nesse excelente espaço museológico podemos encontrar magníficos núcleos de gravuras madeirenses, pintura, escultura, azulejaria portuguesa e estrangeira, e ainda belas peças de mobiliário de todas as épocas e estilos.
Situado na Rua João de Deus, no edifício onde estava instalado o «Dispensário Infantil do Funchal», foi inaugurado em 1987, o «Museu Henrique e Francisco Franco», que exibe famosas gravuras, desenhos, e esculturas da autoria dos irmãos madeirenses Francisco e Henrique Franco, que foram dos mais significativos artistas portugueses dos finais do século XIX, princípios do XX.
O «Museu de Arte Contemporânea», instalado em 1992, na Fortaleza de São Tiago, situada na «Zona Velha» do Funchal, exibe uma importante colecção de Arte desde os anos 60 do séc. XX até os nossos dias, onde se encontram as obras dos mais importantes artistas contemporâneos de Portugal e da Região.
Por sua vez o «Núcleo Museológico da Cidade do Açúcar», instalado na Praça Colombo, no espaço onde existiu no séc XV, a casa do flamengo João Esmeraldo, é outro excelente museu onde está exposto um valioso espólio de utensílios domésticos, cerâmicas, e vários objectos utilizados na vida urbana dos séculos XVI e XVII, que foi o período do esplendor açucareiro do arquipélago da Madeira.
Nesse espaço também podemos contemplar peças de ourivesaria portuguesa dos séculos XVI e XVII, esculturas e pinturas flamengas, e ainda formas de açúcar do séc. XVI.
O «Museu do Vinho da Madeira» está instalado numa ala do prédio neoclássico construído no séc. XIX, para residência do cônsul inglês Henry Veitch, onde hoje também está instalado o «Instituto do Vinho da Madeira»; e aonde, em 1984, foi inaugurado esse espaço museológico, no qual estão recolhidas além de gravuras e fotografias, um significativo conjunto de máquinas, lagares e apetrechos que foram utilizados em todas as fases da produção do afamado Vinho da Madeira.
Também relacionado com a actividade vinícola, o «Museu da Madeira Wine», está instalado no Funchal, mais precisamente no local onde existiam as antigas adegas de São Francisco, e onde também se encontra inserido um conjunto de edifícios de arquitectura barroca. Nesse espaço, cujas paredes foram desenhadas e pintadas por Max Rommer, podemos contemplar um magnífico lagar do séc. XVII, um vasto conjunto de apetrechos e utensílios antigos usados nas diversas fases do fabrico e armazenagem do vinho, e ainda uma série de cartas de personalidades famosas que passaram ou se relacionaram com a Madeira, além de livros e documentos de numerosas firmas inglesas que se estabeleceram na ilha para comerciar o famoso «Madeira Wine».
Na Rua do Visconde de Anadia do Funchal, está instalado o «Museu do Bordado e da Tapeçaria», para rememorar a grande importância económica e social do bordado madeirense no séc. XIX e no seguinte. Neste espaço museológico, onde podemos apreciar valiosas peças de bordados, tapeçarias e embutidos, também se encontra excelentemnte recriado o ambiente romântico duma casa da ilha no séc. XIX, recheada com ricas peças do mobiliário, trajes, gravuras da época, e uma valiosa escultura em bronze de uma bordadeira.
A «Fotografia Museu Vicentes», fundada em 1982 e instalada no mais antigo estúdio de fotografia do nosso País, aberto no Funchal, em 1848, por Vicente Gomes da Silva, recolhe cenários, máquinas, e milhares de negativos fotográficos reunidos por quatro gerações de fotógrafos da família Vicente, para além de outros importantes arquivos particulares. Deste modo, este núcleo museológico, além da conservação de toda a estrutura de um ateliê de fotografia do séc. XIX; constitui também uma fabulosa e rara permanência e conservação de arquivos fotográficos com mais de cem anos.
O «Museu e Aquário Municipal do Funchal» está instalado no Palácio de São Pedro, num belo edifício mandado construir pelo Conde Carvalhal; e foi fundado, em 1929, pela «Câmara Municipal do Funchal», inicialmente para constituir uma unidade museológica ligada à Etnografia, Arqueologia e à História Natural; apresentando ricas colecções da fauna, da flora, e da geologia da Madeira.
Em 1957, com donativos da Câmara e a preciosa colaboração de Gunther Maul, foi construído um aquário com 15 tanques de exposição, onde podemos contemplar muitas espécies da fauna marinha costeira da Madeira.
O «Museu de História Natural», integrado no Jardim Botânico da Madeira, situado no Caminho do Meio, também exibe preciosas colecções de fósseis, aves, animais invertebrados, e vertebrados, e ainda de rochas e minerais representativos das ciências da natureza.
.Por sua vez, o Comando Militar da Madeira inaugurou, em Julho de 1993, o «Núcleo Museológico do Museu Militar do Palácio de São Lourenço», onde estão recolhidos documentos e testemunhos da história secular da Fortaleza de São Lourenço, e que constitui um dos mais grandiosos exemplares das fortificações portuguesas dos séculos XVI e XVII.
O «Museu da Electricidade», instalado na Casa da Luz, no espaço onde funcionava a antiga «Central Térmica da Madeira», expõe um valioso espólio, de máquinas e apetrechos com mais de um século, que divulgam a evolução da iluminação da Madeira, a partir da candeia de azeite, passando pelo petróleo até chegar à electricidade.
O «Museu Monte Palace», localizado no maravilhoso jardim da Quinta do Monte, exibe colecções de azulejos portugueses dos séculos XVII e XVIII, de escultura africana, nomeadamente mais de 1.000 peças provenientes do Zimbabué; e ainda uma colecção de minerais provenientes da América do Norte, Brasil, Peru, Argentina, África do Sul, Zâmbia; na qual avulta uma galeria com exposições de gemas, com destaque especial para os diamantes.
Lembramos ainda o museu «Madeira Story Centre», situado na Zona Velha do Funchal, inaugurado em 29 de Abril de 2005, onde o rigor histórico aliou-se às novas tecnologias, nomeadamente à interactividade, para transmitir as etapas cronológicas da longa história da ilha, desde as lendas da descoberta, ao comércio, à posição estratégica do arquipélago, e ainda ao desenvolvimento da Madeira. Este núcleo museológico oferece também aos visitantes um café temático decorado com temas relacionados com a história da Madeira, e um terraço panorâmico, rodeado por um jardim que recria alguns exemplares da fauna do arquipélago.
Além dos referidos, existem ainda outros museus particulares, tais como o «Núcleo Museológico Mary Jane Wilson», que expõe objectos pessoais, fotografias antigas e a biblioteca daquela religiosa inglesa que fundou a «Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias»; o «Museu-Biblioteca Mário Barbeito de Vasconcelos», que mostra gravuras, mapas, livros e moedas referentes a Cristóvão Colombo; o «Museu do Brinquedo» que exibe colecções de brinquedos antigos, nomeadamente o importante núcleo reunido por Manuel Borges Pereira; e «Universos de Memórias», onde João Carlos Abreu exibe milhares de objectos e peças, que tem coleccionado durante a sua vida.

O portentoso «Parque Natural da Madeira» e os excelentes Museus, que sumariamente descrevemos, constituem equipamentos dignos de realce, que possuem as potencialidades e a grandeza necessária, para apoiar uma cidade classificada como Património da Humanidade.
Deste modo, contribuindo para que sejam verdadeiramente memoráveis as comemorações dos «600 anos da Descoberta da Madeira», seria importante que se encetassem iniciativas com a finalidade de envolver os madeirenses que amam a sua terra, num ambicioso projecto que una as pessoas dos diversos quadrantes políticos e ideológicos, as associações culturais e ambientais, empresários, trabalhadores, historiadores, arqueólogos e eruditos; todos com o objectivo de conceber, planificar, e executar as tarefas necessárias, para a UNESCO classificar a zona histórica do Funchal como Património Mundial.
Com essa honrosa distinção em primeiro lugar beneficiaria a Humanidade, que ficaria mais enriquecida, com a preservação e partilha duma cidade, que se distinguiu por ser um dos marcos mais representativos duma época em que os portugueses e os madeirenses deram novos mundos ao Mundo, e muito contribuíram para a afirmação do homo sapiens, que contrapôs às autoridades escolásticas um eloquente vi muitas vezes visto, como exclamava Luís de Camões.
Honraríamos também os nossos antepassados, que com heroísmo e muito sacrifício, realizaram um conjunto de obras valorosas que engrandeceram o arquipélago e a zona histórica do Funchal.
Essa distinta consagração contribuiria ainda para defender, restaurar e enriquecer o nosso património histórico e monumental, galvanizando a participação dos madeirenses, com a finalidade de impedir que essa valiosa herança volte a ser descaracterizada ou vandalizada.
Por outro lado, aquela nomeação seria um factor de permanente dinamização da cultura, através da realização de exposições de pintura e de escultura, da organização de consertos de orquestra e de solistas, e do fomento de colóquios, conferências, e outras iniciativas nas artes, nas letras e nas ciências, ao serviço da Madeira, da população insular, e do seu desenvolvimento qualitativo.
Acresce que expandiria, significativamente, a actividade turística em todas as suas vertentes; e por consequência, também determinaria o crescimento do artesanato, da hotelaria, da restauração, dos bordados, dos vimes, e das outras actividades industriais e comerciais de apoio ao turismo.
Finalmente, a dignificante classificação de Funchal Património Mundial da Humanidade, potenciaria a auto-estima de todos os madeirenses, emigrantes ou residentes no arquipélago, condição importante e imprescindível para garantir um desenvolvimento harmonioso, e para vencer muitos dos desafios do presente e do futuro.

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